A Exposição Passiva de Crianças ao Cigarro tem Diminuído? Algumas Estratégias de Diminuição | Salubris - Clínica Geral e Medicina do Trabalho

A Exposição Passiva de Crianças ao Cigarro tem Diminuído? Algumas Estratégias de Diminuição


A Organização Mundial de Saúde estimou que quase metade das crianças do mundo estão expostas ambientalmente à fumaça do cigarro. Nos EUA, cerca de 15 milhões de crianças e adolescentes estão expostas, na Austrália são 43% das crianças enquanto no Canadá são 33%. Essa exposição aumenta o risco das crianças em desenvolver infecções respiratórias, infecções de ouvido, asma e síndrome da morte súbita infantil.

Os gastos de saúde por causa dessas doenças devido à exposição tabágica foram cerca de 800 milhões de dólares nos EUA. Várias estratégias de diminuição dessa exposição estão sendo abordadas de acordo com os achados de vários estudos com relação a essa questão.

Nesta última década, tem-se percebido uma intensa luta contra o tabagismo nos ambientes públicos. Através de projetos de lei e decretos, vários países, especialmente os desenvolvidos, têm conseguido introduzir a proibição do fumo em locais como ônibus, metrôs, bancos, restaurantes, cinemas, correios e lojas em geral. Com isso, uma diminuição da exposição do cigarro aos não-fumantes parece começar a fazer efeito.

No que diz respeito às crianças, grande parte da exposição passiva à fumaça do cigarro ocorre dentro de suas próprias casas e como o tabagismo nesses locais não pode ser controlado, mantém-se um vínculo exposição-doença difícil de ser quebrado. Existem relatos de estudos dos EUA em que adultos, mesmo não tendo diminuído seu hábito, implementaram algumas mudanças no que diz respeito ao hábito de fumar dentro de casa. O impacto deste comportamento na exposição ao fumo pelas crianças, ainda não foi estabelecido.

Uma pesquisa realizada na Inglaterra comparou os níveis de uma substância presente na fumaça do cigarro e que pode ser medida na saliva das crianças – cotinine – entre um grupo de crianças de 1988 e outro grupo de 1998. Tal trabalho foi realizado pelo Dr.Martin J. Jarvis, Professor de Psicologia da Saúde, do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da Universidade de Londres, Inglaterra. Um resumo dos resultados obtidos foi exposto na revista médica British Medical Journal.

O Estudo

O objetivo deste estudo foi comparar a exposição passiva de crianças ao fumo no final dos anos 80 e no final dos anos 90. Para conseguir tais dados, a concentração de cotinine foi mensurada desde 1988 num grupo de crianças entre 11 e 15 anos de idade.

Considera-se que crianças que residem em locais nos quais não há adultos fumantes, retratam, através de seus níveis salivares de substâncias provenientes da fumaça tabágica, as tendências no que diz respeito ao tabagismo de uma comunidade, devido ao fato de que qualquer exposição ocorre certamente fora de casa.

Todas as crianças acompanhadas negaram tabagismo. Elas foram também divididas de acordo com o hábito tabágico dos pais: ausência de tabagistas em casa, somente os pais tabagistas, somente as mães tabagistas, ambos pais e mães tabagistas. Os graus de cotinine foram então mensurados periodicamente.

Discussão

Os resultados mostraram um declínio substancial na exposição passiva de crianças ao tabaco na Inglaterra desde o final dos anos 80. Na média, houve uma diminuição de quase a metade na concentração de cotinine entre 1988 e 1998 no grupo estudado.

Essa mudança na exposição ao tabaco pode ser devida a vários fatores dentre os quais o mais importante parece ser o contato direto com pais tabagistas.

Estudos anteriores demonstraram ser essa a maior influência na exposição das crianças ao tabaco sendo a exposição ambiental quantitativamente menos importante, especialmente em crianças menores de 16 anos, não subvalorizando a imensa importância das leis restritivas no controle do tabagismo. Os resultados obtidos nesse estudo confirmam esses achados.

A redução na prevalência do tabagismo dos pais tem sido um fator importante na redução da carga de exposição passiva tabágica das crianças. Isso pode ser reforçado pelo aumento do número de crianças dentro do grupo estudado, que vivem em casas onde os pais não fumam, de 48% em 1988 para 55% em 1996. Por isso, a importância de estratégias de abordar os pais tabagistas.

A exposição passiva de crianças ao tabaco pode também ser influenciada pelo grau de tabagismo presente em sua comunidade: tabagismo na casa de amigos, entre visitas em sua própria casa e em locais públicos. Apesar de não terem sido conseguidas informações sobre esses aspectos, a redução na concentração de cotinine em crianças residentes em casas de não fumantes, sugere que mudanças sócio-culturais proporcionaram um ambiente com um teor de fumaça tabágica consideravelmente menor.

Foram achadas pequenas diminuições na exposição de crianças que têm pais tabagistas. Algum declínio seria de se esperar devido ao declínio da concentração de fumaça tabágica ambiental. Não há dados na Inglaterra, sobre as atitudes tomadas pelos pais tabagistas em diminuir seu hábito quando dentro de casa. A ausência de tais medidas mantém seus filhos expostos aos males do mesmo vício.

Complementação

Um estudo realizado nos EUA utilizou a conscientização através do aconselhamento como estratégia para diminuir a exposição à fumaça do cigarro por crianças menores de quatro anos, filhas de mães tabagistas.

Tal estudo foi realizado através de um acompanhamento de dois grupos de mães divididos aleatoriamente, tendo um grupo recebido a intervenção por sete vezes em três meses e o outro não. Ambos os grupos foram seguidos por dois anos. Os resultados demonstraram uma importante diminuição dos níveis de cotinine naquelas crianças filhas das mulheres do primeiro grupo.

Esses achados confirmaram ser tal estratégia, uma importante forma de atuação na diminuição da exposição das crianças ao cigarro. Assim, mesmo naqueles pais tabagistas, existem formas de diminuir a exposição dos filhos ao cigarro sem se utilizar à exigência de que tenham que abandonar o vício urgentemente, o que pode levá-los a abandonar o programa assistencial num primeiro instante.

Essa intervenção permite um maior tempo de contato para que posteriormente, outras formas de abordagem possam ser efetuadas para a cessação do hábito definitivamente.

No Brasil, infelizmente não se têm dados como esses apresentados acima. Estudos como esse e sobre outras questões relacionadas ao tabagismo deveriam ser realizados com o apoio de verbas governamentais para que possa ser traçado um perfil populacional relacionado a esse grande problema de saúde pública. Assim, as estratégias de combate ao problema se tornam mais facilmente palpáveis visando à união mais rápida entre o projeto e sua implementação.

Fonte: BMJ 2000; 321:343-345. Retirado de Boa SáudeA Exposição Passiva de Crianças ao Cigarro tem Diminuído? Algumas Estratégias de Diminuição. Disponível em: http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3749&ReturnCatID=1803. Acesso em: 22 ago. 2011.